Estabelecer um sistema de contagem e coordenação do tempo na Lua permite que no futuro o mesmo seja feito para outros destinos planetários. Mas não é fácil
Com dezenas de missões lunares planeadas a nível mundial para a próxima década, a Agência Espacial Europeia (ESA) propôs o estabelecimento de um fuso horário na Lua de forma a simplificar a comunicação entre o satélite natural e a Terra. Tal como os sistemas GPS na Terra requerem uma coordenação precisa, o mesmo é necessário com qualquer infraestrutura que seja construída e operada na Lua. Os cientistas já haviam sido confrontados com a coordenação temporal de missões espaciais aquando da construção da Estação Espacial Internacional. Embora esta não tenha o seu próprio fuso horário, funciona no Tempo Universal Coordenado, que é meticulosamente regulado através de relógios atómicos. Os responsáveis espaciais europeus afirmam que um único fuso horário simplificaria a organização e coordenação das múltiplas missões que operam na superfície e órbita lunar ao mesmo tempo, especialmente porque há mais países e até mesmo empresas privadas em competição, seja em missões de reconhecimento, ou de envio de astronautas. Segundo a ESA, é importante definir um tempo de referência lunar comum, que seja internacionalmente aceite e onde todos os sistemas lunares possam ser incluídos. Ainda assim, os peritos não conseguiram determinar exatamente como funcionaria este fuso horário, já que os relógios avançam mais rapidamente na Lua do que na Terra – graças ao efeito do campo gravitacional do nosso planeta: um relógio na Lua ganha cerca de 56 microssegundos a cada 24 horas. Além disso, a contagem do tempo difere entre a superfície e a órbita lunar, o que faz depender o tempo também da sua posição no nosso satélite. “Isto vai ser um desafio considerável numa superfície em que cada dia na região equatorial tem 29,5 dias, incluindo noites lunares geladas que duram uma quinzena”, admite Bernhard Hufenbach, da ESA. O impulso na criação de um fuso horário lunar surge quando a NASA planeia enviar os primeiros astronautas para a Lua mais de meio século depois da última missão. Já a China ambiciona estabelecer uma missão permanente no polo sul lunar até 2029. Rússia, Japão, Coreia do Sul e Índia também anunciaram os seus programas de reconhecimento científico da Lua. A ESA afirmou ainda que os temas atuais em debate se centram em saber se uma única organização deve ser responsável pela determinação e manutenção do tempo lunar, e se este deve ser fixado numa base independente ou ser sincronizado com a Terra.
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