A Cooperativa de Habitação As Sete Bicas, que assinalou este mês 48 anos, prepara-se para, no início do próximo ano letivo, abrir uma residência universitária para 21 estudantes, revelou à Lusa o presidente
À gestão de mais de 4.000 casas, lar de idosos, centro de dia, creche, apoio domiciliário, auditório, parque e piscina, a cooperativa acrescenta agora a esta lista uma residência universitária, denominada "Casa do Estudante", com 21 camas distribuídas por quartos duplos e triplos, contou Guilherme Vilaverde em entrevista à Lusa, a propósito dos atuais problemas de habitação em Portugal.
A residência, que nasce na Senhora da Hora, num antigo ginásio que o tempo tornou ultrapassado, teve um investimento de 400 mil euros e visa responder a uma "enorme dificuldade e lacuna" na sociedade, referiu.
"Um grande número de estudantes deslocados das suas terras não consegue alojamento digno e é, muitas vezes, vítima da enorme especulação que grassa no país, sobretudo nos grandes centros urbanos", frisou.
Daí, acrescentou, a importância desta residência que está toda equipada e cuja mensalidade, que rondará os 300 euros, inclui as despesas com água, luz, internet e limpeza.
Guilherme Vilverde salientou que o objetivo deste equipamento, tal como os restantes que gere, não visa o lucro, mas a qualidade de vida e o sentido de comunidade, algo que caracteriza e diferencia as cooperativas - um sentimento que ao longo do tempo se foi perdendo, assim como a participação cívica e popular, lamentou.
O dirigente da Cooperativa de Habitação As Sete Bicas atribuiu a perda da "mística" do sentimento de vida em comunidade nas cooperativas às mudanças na sociedade e às vivências atuais.
Na sua opinião, as novas gerações têm a ideia de que alguém irá resolver por elas os problemas, nomeadamente os da habitação.
Da mesma forma que os professores se têm manifestado para lutar por aqueles que consideram ser os seus direitos, Guilherme Vilaverde entende que também as novas gerações devem constituir-se como solução para o problema.
"O projeto cooperativo, a ideia de participação cívica e a ideia de se constituírem como pequenos grupos e como uma solução estão a faltar", considerou.
É necessário construir nova habitação, mas os entraves e as limitações são "imensas", desde a falta de terrenos ou os preços elevados dos que estão disponíveis, a falta de materiais e o custo da mão-de-obra, especificou, lembrando que há 14 anos que a Cooperativa Sete Bicas não constrói nada.
"Eu estou a [achar] muito difícil que na próxima década sejam possíveis grandes evoluções neste campo, daí eu defender que compete ao Estado e às autarquias, se querem ter no setor cooperativo um aliado forte na promoção de respostas habitacionais em condições acessíveis, impor a criação de mecanismos", concluiu.
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