Estudantes de arqueologia procuram vestígios da primeira povoação
Até à próxima sexta-feira, decorrem os trabalhos de escavação no Castro do Monte Castêlo, também conhecido como “Castro de Guifões”. Aqui se localizam as raízes enterradas da primeira povoação de Matosinhos, tendo sido habitada desde antes do século V a.C. até meados do século V d.C. Na zona ribeirinha junto ao Rio Leça, perto da ponte e do moinho, poderá ter existido um pequeno fundeadouro ou porto de época romana, uma vez que este local situa-se na extremidade do antigo estuário do Rio Leça (atualmente ocupado com as docas do Porto de Leixões) onde se registam diversas evidências da chegada de mercadorias vindas de pontos longínquos do Império Romano, nomeadamente através da presença de ânforas e outros objetos fabricados em oficinas do sul da península itálica, do norte de África e do Sul da Península Ibérica. Esta é já a sétima campanha de trabalhos arqueológicos, numa investigação iniciada em 2016 e que resulta de dum protocolo de colaboração estabelecido entre a Câmara Municipal de Matosinhos, a Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e a APDL – Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo, proprietária da parcela de terreno onde está a ser realizada a intervenção arqueológica. Alunos finalistas da licenciatura de Arqueologia da FLUP, no âmbito do módulo de formação prática em técnicas de escavação arqueológica, têm vindo a efetuar este trabalho de campo, procurando novas respostas que definam a transição entre o mundo pré-romano da Idade do Ferro e a integração da região no espaço mais vasto do Império Romano. Ontem, o vereador da Cultura da autarquia, Fernando Rocha, visitou o local para acompanhar os trabalhos. Na área em estudo já se identificaram diversos muros, que corresponderiam à existência naquele local de duas casas do tempo do Império Romano e outros muros que parecem ter pertencido a construções mais antigas aqui existentes. Foram recolhidas ainda, para estudo posterior, numerosos fragmentos de cerâmicas, assim como amostras de sementes, que deram indicações preciosas para a reconstituição dos diversos aspetos da vivência quotidiana das populações que habitaram este local há cerca de 2000 anos. Neste projeto de investigação, colabora também o laboratório do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO – INBIO), que reconstitui espécies vegetais existentes ou consumidas na Antiguidade a partir de amostras de carvão recolhidas na escavação, no âmbito de uma bolsa de doutoramento financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. Muitos dos artefactos recolhidos nos trabalhos arqueológicos no Castro do Monte Castêlo estão expostos no Museu da Memória de Matosinhos, nomeadamente cerâmica local da Idade do Ferro, cerâmica comum romana, cerâmicas finas de produção hispânica e africana, recipientes de transporte como ânforas, e ainda um grande dolium para armazenamento de cereais. Para além desta abundância de materiais, ainda é possível visualizar artefactos de iluminação, como as lucernas e alguns utensílios relacionados com a pesca.
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